Aves marinhas de Cabo Verde
As aves marinhas são fascinantes não só pela sua beleza como pela sua biologia e diversidade. São aves de vida longa que dependem do ambiente marinho para sobreviver e muitas só vêm a terra para se reproduzir, podendo passar vários anos no mar sem pousar em terra. Cabo Verde alberga 3 espécies e 2 sub-espécies endémicas de aves marinhas, ou seja, que não criam em mais nenhum lugar do mundo.
ESPÉCIES

Pedreirinho (Hydrobates jabejabe)
Descrição e identificação
Ordem: Procellariiformes
Família: Hydrobatidae
Espécie endémica: Sim
Comprimento: 18 – 21 cm
Envergadura de asa: 43 a 46cm
Peso médio: 40g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
- Lista vermelha de Cabo Verde: Vulnerável
É a ave marinha mais pequena de Cabo Verde, e totalmente negra, com uma mancha branca na zona dorsal e lateral da cauda. Possui as penas de cobertura das asas castanhas escuras, sendo ligeiramente mais claras que o negro do resto do corpo. O bico é negro, robusto e acaba em gancho, as patas são finas e negras. Ambos sexos têm uma coloração semelhante.
Distribuição
Nidifica em Fogo, Ilhas Desertas, nos ilhéus Rabo-de-Junco, de Curral Velho, e ilhéus do Rombo, tanto em zonas costeiras como em montanhas.

Pedreiro azul (Pelagodroma marina eadesorum)
Descrição e identificação
Ordem: Procellariiformes
Família: Hydrobatidae
Espécie endémica: Subespécie endémica
Comprimento: 18 – 21 cm
Envergadura de asa: 42 – 43 cm
Peso médio: 40 – 60 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
- Lista vermelha de Cabo Verde: Indeterminado
A cabeça é cinza-escura com uma linha branca por cima dos olhos e garganta branca. Bico negro, fino e longo. Tem um colar cinzento incompleto na zona do pescoço e dorso castanho-acinzentado, as penas das asas e da cauda são negras e as coberturas caudais são acinzentadas. O ventre é branco. Asas curtas, mas patas compridas, pretas exceto a membrana interdigital que é amarela.
Distribuição
Em Cabo Verde nidifica apenas nos ilhéus Branco, dos Pássaros, Laja Branca e ilhéus do Rombo.

João Preto (Bulweria bulwerii)
Descrição e identificação
Ordem: Procellariiformes
Família: Procellariidae
Espécie endémica: Não
Comprimento: 26 – 28 cm
Envergadura de asa: 63 – 73 cm
Peso médio: 75 – 139 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
- Lista vermelha de Cabo Verde: Risco baixo
Ave marinha totalmente preta, com exceção das penas de cobertura das asas que são de um castanho pálido. O bico é grosso e escuro, terminando em gancho. As patas são negras. Apresenta um ligeiro dimorfismo sexual, sendo os machos ligeiramente maiores que as fêmeas.
Distribuição
Em Cabo Verde nidifica apenas nos ilhéus Raso, Rabo-de-junco e ilhéus do Rombo.

Pedreiro (Puffinus iherminieri boydi)
Descrição e identificação
Ordem: Procellariiformes
Família: Procellariidae
Espécie endémica: Sub-espécie endémica
Comprimento: 28 – 30 cm
Envergadura de asa: 58 – 61 cm
Peso médio: 160 g
Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
Lista vermelha de Cabo Verde: Indeterminado
Subespécie endémica de Cabo Verde embora a sua taxonomia esteja ainda em discussão. Bico escuro fino e longo. Patas de um azul acizentado. O dorso é escuro, com exceção de dois flancos brancos laterais junto à cauda. O ventre é branco e a parte interior das asas apresenta um rebordo escuro.
Distribuição
Nidifica em Fogo, Brava, Ilhas Desertas e nos ilhéus Rabo-de-Junco e ilhéus do Rombo. Tanto em zonas costeiras como em montanhas. Alguns indivíduos migram para a zona central do Atlântico Norte e outros mantêm-se durante todo o ano ao largo de Cabo Verde.

Gongon (Pterodroma feae)
Descrição e identificação
Ordem: Procellariiformes
Família: Procellariidae
Espécie endémica: Sim
Comprimento: 36 – 39 cm
Envergadura de asa: 89 – 94 cm
Peso médio: 283 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Quase ameaçado
- Lista vermelha de Cabo Verde: Vulnerável
A cabeça é grande e o pescoço grosso. Tem testa branca e o topo da cabeça é escuro. O bico é grosso e de base curta com a ponta em gancho. Apresenta um corpo robusto e compacto. A cauda em cunha e os flancos listados. A identificação é difícil pois é facilmente confundida com a Freira-do-bugio e Freira-da-madeira.
Distribuição
Espécie endémica de Cabo Verde que nidifica nas ilhas de Santo Antão, São Nicolau, Fogo e Santiago. É uma espécie oceânica, residente nas águas ao largo de Cabo Verde (sobretudo num raio de 500 km) durante todo o ano. Presente em terra apenas entre setembro e junho.

Cagarra (Calonectris edwardsii)
Descrição e identificação
Ordem: Procellariiformes
Família: Procellariidae
Espécie endémica: Sim
Comprimento: 42 – 47 cm
Envergadura de asa: 101 – 112 cm
Peso médio: 420 – 540 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Quase ameaçada
- Lista vermelha de Cabo Verde: Em perigo de extinção
De pequena dimensão, em comparação com a espécie portuguesa (Calonectris borealis). Comparativamente à espécie portuguesa, identifica-se pelo bico afilado e escuro de menor dimensão, a cabeça e o dorso mais escuros. Os juvenis e os adultos são morfologicamente semelhantes. Apresenta baixo dimorfismo sexual.
Distribuição
Reproduz-se em quase todas as ilhas de Cabo Verde, excetuando as ilhas do Maio e Santa Luzia e nos ilhéus Raso, Rabo-de-Junco e Curral Velho. Até há pouco tempo pensava-se não se encontrar na ilha do Sal. Durante a reprodução encontra-se presente nas águas de Cabo Verde e Costa de África, migrando posteriormente para a América do Sul nas águas do Brasil.

Rabo de Junco (Phaeton aethereus)
Descrição e identificação
Ordem: Phaethontiformes
Família: Phaethonidae
Espécie endémica: Não
Comprimento: 90 – 107 cm, incluindo a cauda que pode ir até 70 cm
Envergadura de asa: 99 – 106 cm
Peso médio: 420 – 540 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
- Lista vermelha de Cabo Verde: Em perigo
Espécie de grande porte. A plumagem é maioritariamente branca, como uma faixa negra na zona ocular, manchas pretas no dorso e nas pontas das asas.
Os adultos possuem um bico robusto vermelho e os juvenis amarelo. As patas possuem membranas interdigitais, e são amarelas com manchas pretas.
Distribuição
Espécie residente, que cria durante todo o ano em Cabo Verde. Encontra-se em quase todas as ilhas e ilhéus exceto na ilha do Maio.

Alcatraz (Sula leucogaster)
Descrição e identificação
Ordem: Suliformes
Família: Sulidae
Espécie endémica: Não
Comprimento: 64 – 85 cm
Envergadura de asa: 132 – 155 cm
Peso médio: 500 – 1800 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
- Lista vermelha de Cabo Verde: Vulnerável
A plumagem dos adultos é branca na zona do ventre de baixo da asa desde o centro até à margem. Castanho na parte superior das asas, dorso, cabeça, pescoço e parte superior do peito. Os machos têm patas amarelo forte e as penas são mais escuras que as fêmeas. O bico das fêmeas é rosado, na parte anterior aos olhos uma mancha azulada, enquanto que os machos têm o bico todo amarelo e ao redores dos olhos um tom azulado.
Distribuição
Reproduz-se em Santa Luzia, Boavista, Santiago, Brava e nos ilhéus Raso, Curral Velho e Baluarte.

Alcatraz de patas vermelhas (Sula sula)
Descrição e identificação
Ordem: Suliformes
Família: Sulidae
Espécie endémica: Não
Comprimento: 66 – 77 cm
Envergadura de asa: 124 – 152 cm
Peso médio: 900 – 1003 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
- Lista vermelha de Cabo Verde: Indeterminado
Ave de morfologia variada. Na morfo branca prevalece a plumagem branca com algumas partes amarelas. Asas com tons de cinza prata. A cauda pode ser branca ou preta. As asas são sempre escuras. Na morfo castanha tem uma plumagem castanha variável de bronze a castanho chocolate. O bico azul acinzentado mais fosco na ponta e possui pele nua ao redor dos olhos.
Distribuição
Em Cabo Verde existem observações no ilhéu Raso, ilhas de Santiago (baía do Inferno) e Brava.

Fragata (Fregata magnificens)
Descrição e identificação
Ordem: Suliformes
Família: Fregatidae
Espécie endémica: Não
Comprimento: 89 – 114 cm
Envergadura de asa: 217 – 244 cm
Peso médio: 1000 – 1900 g
- Estatuto de conservação mundial (IUCN): Pouco preocupante
- Lista vermelha de Cabo Verde: Extinta em Cabo Verde.
Ave de grande porte com asas muito longas e estreitas, cauda bifurcada, bico longo terminado em gancho e patas curtas. A plumagem é quase completamente negra, exceto o peito que é branco. As fêmeas e os indivíduos imaturos apresentam a cabeça e o ventre brancos. Os machos são menores que as fêmeas e apresentam na região da garganta uma bolsa vermelha que enchem de ar durante a parada nupcial.
Distribuição
Espécie tropical. Cria nos Oceanos Atlântico e Pacífico. A única área de cria no oeste africano era em Cabo Verde. No passado reproduzia-se nos ilhéus Baluarte e Curral Velho a este e sul da ilha Boavista, respectivamente (López-Suárez et al. 2005). Há registos até meados do século XIX desta espécie a criar também no ilhéu dos Pássaros em São Vicente (Hazevoet 1995). As últimas nidificações ocorreram no ilhéu de Curral Velho (López-Suárez et al. 2005). A última cria registou-se em 1998, observou-se pela última vez 1 macho e 2 fêmeas em 2015, e em 2016 apenas 2 fêmeas foram observadas e desde então nunca mais foram observadas Fragata em Cabo Verde.
Principais ameaças
PREDAÇÃO POR MAMÍFEROS INVASORES
Atualmente a maior ameaça que sofrem as aves marinhas em Cabo Verde é a depredação por parte de cães, gatos, ratazanas e ratos introduzidos pelos humanos. Estes predadores capturam adultos, crias e ovos causando grandes impactos negativos no êxito reprodutor das aves marinhas e nas suas populações.
CAPTURA POR HUMANOS
A captura humana de adultos e crias de aves marinhas para consumo alimentar, para fins medicinais ou para ter como animais de estimação ocorre em várias ilhas e ilhéus de Cabo Verde, sendo as aves de maior porte as principais vítimas (Alcatraz, Rabo-de-Junco, Cagarra e Gongon). As capturas e posterior venda de filhotes de cagarra no ilhéu Raso era uma prática habitual até o ano 2011, ano em que foi erradicada. Infelizmente a captura de Alcatraz, Rabo-de-Junco e Cagarra na Brava, a captura de Gongon em Santo Antão, São Nicolau, Santiago e Fogo e a captura de Rabo-de-Junco em Boavista e no Sal, continuam a ser habituais.
POLUIÇÃO LUMINOSA
Algumas espécies de aves marinhas entram e saem de noite dos seus locais de reprodução para evitar a predação. Infelizmente, algumas destas aves podem encandear-se com luzes artificiais das populações humanas, caem para o chão e podem morrer devido ao impacto, ou caso não morram ficam mais expostas à predação por gatos, à captura humana ou sujeitas a serem atropelas por carros.
INTERACÇÃO COM PESCAS
Pescadores e aves marinhas estão frequentemente à procurar peixe nos mesmos lugares e portanto a interação das aves marinhas com as artes de pesca é habitual e quase inevitável. É bem conhecido que algumas artes de pesca com anzóis, como um palangre, ou a pesca com redes, podem causar importantes mortalidades de aves marinhas, e em alguns lugares são a causa principal do declínio populacional das aves marinhas como os albatrozes por exemplo.
PERDA DE HABITAT
A perda de habitat é uma causa silenciosa do declínio populacional das aves marinhas em Cabo Verde. O desenvolvimento de populações ou de infraestruturas turísticas na costa, e também em alguns lugares do interior, estão a ocupar espaço antigamente utilizados pelas aves marinhas. Espécies como o Gongon precisam de áreas sem luz artificial para a sua reprodução, que se vão tornando cada vez mais raras. O desenvolvimento das populações também está acompanhado da proliferação de cães, gatos, ratazanas e ratos, empurrando as aves marinhas a reproduzir em lugares cada vez mais limitados.
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Geralmente as aves marinhas nidificam durante o período em que as suas presas são mais abundantes. No entanto, o atual aumento da temperatura dos oceanos está a alterar os ritmos biológicos das suas presas (pequenos peixes, crustáceos e cefalópodes). Infelizmente, as aves marinhas não estão a conseguir adaptar os seus ritmos biológicos às alterações da temperatura dos oceanos o que está a provocar um desfasamento entre os períodos em que as aves marinhas nidificam e os períodos de maior abundância de suas presas nos oceanos. Este desfasamento está a diminuir o sucesso reprodutor das aves marinhas, dificultando a sobrevivência a longo prazo destas espécies (Keogan et al. 2018).
DESIQUILÍBRIO DOS ECOSSISTEMAS
As alterações climáticas, a sobrepesca, a poluição e a introdução de espécies invasoras podem provocar alteração nas cadeias tróficas marinhas e consequentemente na estrutura e equilíbrio dos ecossistemas. As aves marinhas dependem do ecossistema marinho para sobreviver e qualquer fator que afete este equilíbrio terá consequências na sua sobrevivência.
Saiba mais aqui: https://avesmarinhasdecaboverde.info/

IMPORTÂNCIA DAS AVES MARINHAS PARA O ECOSSISTEMA
TURISMO
Potencializam um turismo de natureza rentável para o arquipélago de Cabo Verde.
ECOSSISTEMA
Excelentes bioindicadores da saúde dos ecossistemas marinhos e vitais para os ecossistemas terrestres.
AMBIENTE
Oferecem-nos boas pistas sobre a saúde dos recursos marinhos que tanto elas como nós dependemos.
ONDE ESTAMOS
Telefone
Chamada para rede fixa
Endereço
Xaguate de Cima, São Filipe
Código Postal: 8220
Cabo Verde
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