Aves marinhas de Cabo Verde

Aves Marinhas

As aves marinhas são fascinantes não só pela sua beleza como pela sua biologia e diversidade. São aves de vida longa que dependem do ambiente marinho para sobreviver e muitas só vêm a terra para se reproduzir, podendo passar vários anos no mar sem pousar em terra. 

Espécies:

Alcatraz (Sula leucogaster)

Descrição e identificação

Ordem: Suliformes

Família: Sulidae

Espécie endémica: Não

Comprimento: 64 – 85 cm

Envergadura de asa: 132 – 155 cm

Peso médio: 500 – 1800 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Vulnerável

A plumagem dos adultos é branca na zona do ventre inferior e de baixo da asa desde o centro até à margem. Castanho na parte superior das asas, dor­so, cabeça, pescoço e parte superior do peito. Os machos têm patas de tom amarelo forte e as penas são mais escuras que as fêmeas. O bico das fêmeas é rosado, na parte anterior os olhos têm uma mancha azulada, enquanto que os machos têm o bico todo amarelo e ao redores dos olhos um tom azulado.

Distribuição

Reproduz-se em Santa Luzia, Boavista, Santiago, Brava e nos ilhéus Raso, Curral Velho e Baluarte.

Alcatraz de patas vermelhas (Sula sula)

Descrição e identificação

Ordem: Suliformes

Família: Sulidae

Espécie endémica: Não

Comprimento: 66 – 77 cm

Envergadura de asa: 124 – 152 cm

Peso médio: 900 – 1003 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Indeterminado

Ave de morfologia variada. Na morfo branca prevalece a plumagem branca com algumas partes amarelas. Asas com tons de cinza prata. A cauda pode ser branca ou preta. As asas são sempre escuras. Na morfo castanha tem uma plumagem castanha variável de bronze a castanho chocolate. O bico azul acinzentado mais fosco na ponta e possui pele nua ao redor dos olhos.

Distribuição

Em Cabo Verde existem observações nas ilhas de Santiago (Baía do Inferno) e Brava e no ilhéu Raso.

Cagarra (Calonectris edwardsii)

Descrição e identificação

Ordem: Procellariiformes

Família: Procellariidae

Espécie endémica: Sim

Comprimento: 42 – 47 cm

Envergadura de asa: 101 – 112 cm

Peso médio: 420 – 540 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Quase Ameaçada
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Em Perigo de Extinção

A Cagarra de Cabo Verde é de pequena dimensão, em comparação com a espécie portuguesa (Ca­lonectris borealis). Comparativamente à espécie portuguesa, identifica-se pelo bico afilado e escuro de menor dimensão, a cabeça e o dorso mais escuros. Os juvenis e os adultos são morfologicamente semelhantes. Apresenta baixo dimorfismo sexual.

Distribuição

Reproduz-se em quase todas as ilhas de Cabo Verde, exceto as ilhas do Maio e Santa Luzia e nos ilhéus Raso, Rabo de Junco e Curral Velho. Até há pouco tempo pensava-se não se encontrar na ilha do Sal. Durante a reprodução encontra-se presente nas águas de Cabo Verde e Costa de África, migrando posteriormente para a América do Sul nas águas do Brasil.

Fragata (Fregata magnificens)       

Descrição e identificação

Ordem: Suliformes

Família: Fregatidae

Espécie endémica: Não

Comprimento: 89 – 114 cm

Envergadura de asa: 217 – 244 cm

Peso médio: 1000 – 1900 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Extinta em Cabo Verde

Ave de grande porte com asas muito longas e estreitas, cauda bifurcada, bico longo terminado em gancho e patas curtas. A plumagem é quase completamente negra, exceto o peito que é branco. As fêmeas e os in­divíduos imaturos apresentam a cabeça e o ventre brancos. Os machos são menores que as fêmeas e apresentam na região da garganta uma bolsa vermelha que enchem de ar durante a parada nupcial.

Distribuição

Espécie tropical. Cria nos Oceanos Atlântico e Pacífico. A única área de cria no oeste africano era em Cabo Verde. No passado reproduzia­-se nos ilhéus Baluarte e Curral Velho a este e sul da ilha Boavista, respetivamente (López-Suárez et al. 2005). Há registos até meados do século XIX desta espécie a criar também no ilhéu dos Pássaros em São Vicente (Hazevoet 1995). As últimas nidificações ocorreram no ilhéu de Curral Velho (López-Suárez et al. 2005). A última cria registou-se em 1998, observou-se pela última vez 1 macho e 2 fêmeas em 2015, e em 2016 apenas 2 fêmeas foram observadas e desde então nunca mais foram observadas Fragata em Cabo Verde.

Gongon (Pterodroma feae)

Descrição e identificação

Ordem: Procellariiformes

Família: Procellariidae

Espécie endémica: Sim

Comprimento: 36 – 39 cm

Envergadura de asa: 89 – 94 cm

Peso médio: 283 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Quase Ameaçado
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Vulnerável

A cabeça é grande e o pescoço é grosso. Tem testa branca e o topo da cabeça é escuro. O bico é grosso e de base curta com a ponta em gancho. Apresenta um corpo robusto e compacto. A cauda em cunha e os flancos listados. A identificação é difícil pois é facilmente confundida com a Freira-do-bugio e Freira-da-madeira.

Distribuição

Nidifica nas ilhas de Santo Antão, São Nicolau, Fogo e Santiago. É uma espécie oceânica, residente nas águas ao largo de Cabo Verde (sobretudo num raio de 500 km) durante todo o ano. Presente em terra apenas entre setembro e junho.

João preto (Bulweria bulwerii)

Descrição e identificação

Ordem: Procellariiformes

Família: Procellariidae

Espécie endémica: Não

Comprimento: 26 – 28 cm

Envergadura de asa: 63 – 73 cm

Peso médio: 75 – 139 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Risco Baixo

Ave marinha totalmente preta, com exceção das penas de cobertura das asas que são de um castanho pálido. O bico é grosso e escuro, terminan­do em gancho. As patas são negras. Apresenta um ligeiro dimorfismo sexual, sendo os machos ligeiramente maiores que as fêmeas.

Distribuição

Nidifica apenas nos ilhéus Raso, Rabo de Junco e Rombo.

Pedreirinho (Hydrobates jabejabe)

Descrição e identificação

Ordem: Procellariiformes

Família: Hydrobatidae

Espécie endémica: Sim

Comprimento: 18 – 21 cm

Envergadura da asa: 43 a 46cm

Peso médio: 40g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Vulnerável

É a ave marinha mais pequena de Cabo Verde, e totalmente negra, com uma mancha branca na zona dorsal e lateral da cauda. Possui as penas de cobertura das asas castanhas escuras, sendo ligeiramente mais cla­ras que o negro do resto do corpo. O bico é negro, robusto e acaba em gancho, as patas são finas e negras. Ambos sexos têm uma coloração semelhante.

Distribuição

Nidifica na ilha do Fogo, nas ilhas Desertas, nos ilhéus de Rabo de Junco, Curral Velho e Rombo.

Pedreiro (Puffinus iherminieri boydi)

Descrição e identificação

Ordem: Procellariiformes

Família: Procellariidae

Espécie endémica: Subespécie endémica

Comprimento: 28 – 30 cm

Envergadura de asa: 58 – 61 cm

Peso médio: 160 g

Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
Lista Vermelha de Cabo Verde: Indeterminado

Subespécie endémica de Cabo Verde, embora a sua taxonomia esteja ainda em discussão. Bico escuro fino e longo. Patas azul acizen­tado. O dorso é escuro, com exceção de dois flancos brancos laterais junto à cauda. O ventre é branco e a parte interior das asas apresenta um rebordo escuro.

Distribuição

Nidifica nas ilhas do Fogo e Brava, ilhas Desertas e nos ilhéus Rabo de Junco e Rombo. Alguns indivíduos migram para a zona central do Atlântico Norte e outros mantêm-se durante todo o ano ao largo de Cabo Verde.

Pedreiro azul (Pelagodroma marina eadesorum)

Descrição e identificação

Ordem: Procellariiformes

Família: Hydrobatidae

Espécie endémica: Subespécie endémica

Comprimento: 18 – 21 cm

Envergadura de asa: 42 – 43 cm

Peso médio: 40 – 60 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Indeterminado

A cabeça é cinza-escura com uma linha branca por cima dos olhos e garganta branca. Bico negro, fino e longo. Tem um colar cinzento incompleto na zona do pescoço e dorso castanho-acinzentado, as penas das asas e da cauda são negras e as coberturas caudais são acinzenta­das. O ventre é branco. Asas curtas, mas patas compridas, pretas exce­to a membrana interdigital que é amarela.

Distribuição

Nidifica apenas nos ilhéus Branco, Pássaros, Laja Branca e Rombo.

Rabo-de-junco (Phaeton aethereus)

Descrição e identificação

Ordem: Phaethontiformes

Família: Phaethonidae

Espécie endémica: Não

Comprimento: 90 – 107 cm, incluin­do a cauda que pode ir até 70 cm

Envergadura de asa: 99 – 106 cm

Peso médio: 420 – 540 g

  • Estatuto de Conservação Mundial (IUCN): Pouco Preocupante
  • Lista Vermelha de Cabo Verde: Em Perigo

Espécie de grande porte. A plumagem é maioritariamente branca, como uma faixa negra na zona ocular, manchas pretas no dorso e nas pontas das asas. Os adultos possuem um bico robusto vermelho e os juvenis amarelo. As patas possuem membranas interdigitais, e são amarelas com manchas pretas.

Distribuição

Espécie residente, que cria durante todo o ano em Cabo Verde. Encontra-se em quase todas as ilhas e ilhéus, exceto a ilha do Maio.

Principais ameaças

  • Predação por mamíferos invasores

Atualmente a maior ameaça que sofrem as aves marinhas em Cabo Verde é a depredação por parte de cães, gatos, ratazanas e ratos in­troduzidos pelos humanos. Estes predadores capturam adultos, crias e ovos causando grandes impactos negativos no êxito reprodutor das aves marinhas e nas suas populações.

  • Captura por humanos

A captura humana de adultos e crias de aves marinhas para consumo alimentar, para fins medicinais ou para ter como animais de estima­ção ocorre em várias ilhas e ilhéus de Cabo Verde, sendo as aves de maior porte as principais vítimas (Alcatraz, Rabo-de-junco, Cagarra e Gongon). A captura e posterior venda de filhotes de Cagarra no ilhéu Raso era uma prática habitual até o ano 2011, ano em que foi erradicada. Infelizmente a captura de Alcatraz, Rabo-de-junco e Ca­garra na Brava, a captura de Gongon em Santo Antão, São Nicolau, Santiago e Fogo e a captura de Rabo-de-junco em Boavista e no Sal, continuam a ser habituais.

  • Poluição luminosa

Algumas espécies de aves marinhas entram e saem de noite dos seus locais de reprodução para evitar a predação. Infelizmente, algumas destas aves podem encandear-se com luzes artificiais das populações humanas, caem para o chão e podem morrer devido ao impacto, ou caso não morram ficam mais expostas à predação por gatos, à cap­tura humana ou sujeitas a serem atropeladas por carros.

  • Interação com pescas

Pescadores e aves marinhas estão frequentemente à procura de peixe nos mesmos lugares e portanto a interação das aves marinhas com as artes de pesca é habitual e quase inevitável. É bem conhecido que algumas artes de pesca como anzóis, como um palangre, ou a pesca com redes, podem causar importantes mortalidades de aves mari­nhas, e em alguns lugares são a causa principal do declínio popula­cional das aves marinhas como os albatrozes por exemplo.

  • Perda de habitat

A perda de habitat é uma causa silenciosa do declínio populacional das aves marinhas em Cabo Verde. O desenvolvimento de popula­ções ou de infraestruturas turísticas na costa, e também em alguns lu­gares do interior, estão a ocupar espaço antigamente utilizados pelas aves marinhas. Espécies como o Gongon precisam de áreas sem luz artificial para a sua reprodução, que se vão tornando cada vez mais raras. O desenvolvimento das populações também está acompanha­do da proliferação de cães, gatos, ratazanas e ratos, motivando as aves marinhas a reproduzir em lugares cada vez mais limitados.

  • Alterações climáticas

Geralmente as aves marinhas nidificam durante o período em que as suas presas são mais abundantes. No entanto, o atual aumento da temperatura dos oceanos está a alterar os ritmos biológicos das suas presas (pequenos peixes, crustáceos e cefalópodes). Infelizmente, as aves marinhas não estão a conseguir adaptar os seus ritmos biológi­cos às alterações da temperatura dos oceanos o que está a provocar um desfasamento entre os períodos em que as aves marinhas nidifi­cam e os períodos de maior abundância de suas presas nos oceanos. Este desfasamento está a diminuir o sucesso reprodutor das aves marinhas, dificultando a sobrevivência a longo prazo destas espécies (Keogan et al. 2018).

  • Desiquilíbrio dos ecossistemas

As alterações climáticas, a sobrepesca, a poluição e a introdução de espécies invasoras podem provocar alteração nas cadeias tróficas marinhas e consequentemente na estrutura e equilíbrio dos ecossiste­mas. As aves marinhas dependem do ecossistema marinho para so­breviver e qualquer factor que afete este equilíbrio terá consequências na sua sobrevivência.

Saiba mais aqui: https://avesmarinhasdecaboverde.info/ 

IMPORTÂNCIA DAS AVES MARINHAS PARA O ECOSSISTEMA

TURISMO

Potencializam um turismo de natureza rentável para o arquipélago de Cabo Verde.

ECOSSISTEMA

Excelentes bioindicadores da saúde dos ecossistemas marinhos e vitais para os ecossistemas terrestres.

AMBIENTE

Oferecem-nos boas pistas sobre a saúde dos recursos marinhos que tanto elas como nós dependemos.